segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Criação a partir de uma frase

“Era uma tarde boa para a gente existir. O mundo cheirava a casa.” (Mia Couto, O fio das missangas).

Nas férias sempre voltávamos à casa dos meus pais para visitá-los. Quanto mais perto, mais a sensação e o cheiro da casa aumentavam. Lembranças da infância invadiam a minha mente: a casa limpa, o quarto com suas camas com lençóis limpinhos e cheirando a alfazema. A cozinha, lugar de encontro de todos, cheirando a feijão ou invadida pelo aroma dum café recém passado. Cada cômodo da casa resgatava um pouco do meu passado, já não tão distante; os porta-retratos nos móveis reavivam muito mais o passado recente: férias na praia, o cachorro querido, a primeira comunhão, as formaturas, os quinze anos, as brincadeiras de infância... Passaram-se mais de trinta anos e é como se uma tela se abrisse em minha memória e trouxesse tudo de volta: o abraço gostoso de minha mãe e seu cheiro único, os amigos de infância, os aniversários, os parentes que já se foram, o cheiro da chuva, o milho verde cozido, as frutas da época, subir em árvores, tomar banho de chuva e de mar, andar de bicicleta, as missas aos domingos. Cheiros que o tempo levou e que num redemoinho a memória traz de volta.

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