segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Peixe diferente

Noite de quase ano novo. Rojões se espatifavam no céu, famílias se revezavam no interior das casas preparando a grande fes ta . Mas eu! Eu não estava nem aí para festança, barulho, ajuntamento da parentela. Meu grande prazer é e sempre será admirar a água com estes olhos por detrás dos grandes óculos com lentes fundo de garrafa percorrendo as ondas na maré que sobe e desce na expectativa de vislumbrar o salto dançante de um habitante do mar. Tainha, papa-terra, bagre, sardinha, peixe- rei... Não importa... Se cair na rede é peixe e já fico com a boca nas orelhas.
Sobre a ponte meio deserta do rio Tramandaí me preparei para mais uma jogada de tarrafa. Após panear com a mão direita pois sou canhoto, prender a chumbada nos dentes como todo bom pescador, forçar minha barriga de gestante aparentando seis meses, finalmente aquela teia gigante voou pelo ar e atrás dela um enorme bloco de cimento.
Senti flutuar, o frio da noite ficou mais intenso com o baque na água. Logo só ouvi um som surdo tudo era escuro, minhas mãos procuravam e só encontravam o vazio. Senti algo em meu pulso que me impulsionava para baixo. Retirei num ímpeto aquela laçada ficando mais leve; estava livre da tarrafa. Falei com Deus, vi o caminho do céu ou os diabinhos todos dizendo:____ Vem! Vem! Aqui está bem quentinho!
Diante deste lampejo dramático da morte busquei algo e enfim minhas mãos encontrara aspereza, algo gigantesco que arranharam meus braços. Foi o melhor abraço da minha vida! Agarrei-me e subi. Vi luz emergindo das águas; meu peito se inflou com tanto ar e percebi que estava vivo.
No dia seguinte, corria uma notícia bombástica entre os pescadores da cidade:
Olhem! Olhem! Aquele boto está de óculos.

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